Domingo, 11 de maio de 2025

Postado às 20h00 | 10 Mai 2025 | REDAÇÃO Cientistas usam física para criar nanopartículas magnéticas contra o câncer

Crédito da foto: Cícero Oliveira / UFRN Inovação pode revolucionar o tratamento de doenças e a vetorização de fármacos

Por Wilson Galvão – Especial / UFRN

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) alcançou mais um avanço tecnológico: um método para a síntese de nanopartículas magnéticas de cobalto e níquel, que podem ser úteis no tratamento de câncer e na vetorização magnética de fármacos – uma forma de transportar a medicação para o local específico onde deve agir.

A patente tem a participação dos inventores Marco Antonio Morales Torres, Thiago Tibúrcio Vicente e John Carlos Mantilla Ochoa e recebeu o nome de “Síntese de nanopartículas monodispersas metálicas de níquel e cobalto embebidas em uma matriz de gelatina”.

Professor do Departamento de Física da UFRN, Marco Morales explica que os pesquisadores usaram o método sol-gel para chegar às nanopartículas. Nesse método, uma amostra é feita, formando um sol. Em seguida, passa-se esse sol para a forma de gel, ou seja, removendo-se sua fase líquida.

“Essas nanopartículas de níquel e cobalto foram sintetizadas em matriz de gelatina. Não à toa: os grupos amino, tiol e carboxílico, presentes na gelatina, favorecem sua solubilidade em água e a capacidade de interagir com os cátions metálicos dissolvidos em meio aquoso”, pontua o docente.

A síntese de nanopartículas magnéticas metálicas tem recebido muita atenção devido às suas aplicações em várias tecnologias – não por acaso, o desenvolvimento de novos métodos para a síntese delas vem aumentando. Os autores citam como exemplos a possibilidade de uso em amortecimento de autofalantes, tratamento de câncer por hipertermia magnética e vetorização magnética de fármacos.

“As nanopartículas podem ser funcionalizadas com surfactantes e polímeros biocompatíveis e, então, depositadas no local do tumor. A partir daí, podem gerar calor na região do tumor por meio da aplicação de um campo magnético AC. Esse método é chamado de magnetohipertermia. Esse é um exemplo dentro de um espectro amplo de uso, que inclui armazenamento de informações em sistemas de gravação magnética, catálise, biomedicina, células solares, produção de hidrogênio através de reforma de vapor de álcoois sobre catalisadores suportados em cerâmica, entre outros”, situa o pesquisador.

 

Nanopartículas têm elevado momento magnético

As nanopartículas da patente são metálicas e têm elevado momento magnético. Dessa maneira, podem ser facilmente manipuladas remotamente usando um campo magnético. As nanopartículas de níquel e cobalto têm estrutura cristalina cúbica de face centrada, com diâmetros médios de seis e sete nanômetros.

A tecnologia foi depositada em 2019 e é fruto de um estudo vinculado ao Programa de Pós-graduação em Física. Além de Morales e Ochoa, a patente contou com a contribuição de Thiago Tibúrcio Vicente no preparo das amostras, redação do documento e caracterização magnética, estrutural e morfológica. O coordenador do grupo, Morales, atuou na conceitualização do projeto e na busca por recursos para seu desenvolvimento.

“O método de síntese desenvolvido revelou-se um avanço significativo na síntese de nanopartículas metálicas magnéticas. É o resultado de vários meses de trabalho do meu grupo de pesquisa, com a contribuição do ex-aluno de iniciação científica Thiago Tibúrcio Vicente e do pós-doutor John Carlos Mantilla Ochoa”, identifica Morales.

Patenteamento

A concessão da patente deixa implícito que a tecnologia atendeu a três critérios. O primeiro, a novidade, refere-se ao fato de que é algo diferente de tudo o que já existia. O segundo, a atividade inventiva, ocorre sempre que, para um técnico no assunto, a invenção não decorre de maneira evidente. Assim, deve apresentar um grau de criatividade e não ser apenas uma combinação óbvia de elementos já existentes. Por fim, ter uma concessão de patente significa também que ela é passível de aplicação industrial, isto é, pode ser utilizada ou produzida em qualquer tipo de indústria.

Portanto, ter uma carta-patente é o reconhecimento de uma invenção, algo criado pelo homem e que se apresenta como uma ideia ou solução técnica que não existia anteriormente na natureza. Dessa maneira, a carta-patente difere da descoberta, que se refere, sobretudo, à revelação de algo que já existia na natureza, mas que ainda não tinha sido conhecido ou compreendido pelo homem – as descobertas não são consideradas patenteáveis.

Contando com a natural parceria dos inventores para a proteção dos ativos de propriedade industrial, aproveitando as listas de contatos dos cientistas e o conhecimento nas áreas tecnológicas em que atuam, o que os coloca em uma situação privilegiada na identificação de potenciais licenciados, a Agência de Inovação da Reitoria (Agir) é a unidade responsável dentro da UFRN por propiciar suporte aos inventores durante o pedido de patenteamento. Esse procedimento tem início com a notificação de invenção, através do SIGAA, na aba "Pesquisa", primeiro passo para os cientistas com interesse em patentear uma descoberta fruto de alguma pesquisa com sua participação.

“Aqui na agência, damos suporte nesse aspecto, bem como intermediamos participações de pesquisadores em mentorias do INPI. O apoio que oferecemos aos alunos, docentes e pesquisadores abrange orientações sobre o que pode ou não ser patenteado, de acordo com a Lei 9.279/96, em seus artigos dez e dezoito, além de apoio para realizar a transferência da tecnologia desenvolvida para empresas interessadas em sua comercialização. Mesmo as tecnologias que não puderem ser patenteadas podem ser transferidas por meio do licenciamento de know-how, conceito que abrange uma reunião de experiências, conhecimentos e habilidades voltadas à produção de um produto ou artefato”, lista o diretor da Agir da UFRN, Jefferson Ferreira de Oliveira.

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