Por Juliana Estevam e Paiva Rebouças – Especial/UFRN
O município de Jardim do Seridó, no interior do Rio Grande do Norte, desperta o interesse da comunidade acadêmica devido a um dado surpreendente: 4,1% de sua população tem mais de 80 anos, o dobro da média nacional, representando o maior índice de envelhecimento entre municípios brasileiros com até 20 mil habitantes. Com pouco mais de 11 mil moradores, a cidade se tornou um campo privilegiado para estudar os fatores que contribuem para o envelhecimento saudável e os desafios que esse processo impõe.
O que ocorre em Jardim do Seridó não é um caso isolado, mas parte de uma tendência nacional em curso. Segundo projeções do IBGE, até 2060, 25,5% da população brasileira terá 65 anos ou mais, quase o triplo dos 9,2% estimados para 2022. O avanço da longevidade impõe desafios imediatos, como a reformulação de políticas de saúde, previdência e infraestrutura urbana, além da necessidade de adaptar a formação de profissionais e a oferta de serviços para atender a uma sociedade cada vez mais envelhecida.
Diante desse cenário, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolve o Projeto Seridó, voltado à promoção do envelhecimento saudável em Jardim do Seridó. A iniciativa atua em quatro eixos: capacitação de profissionais da Atenção Primária, avaliações gerontológicas, atividades educativas e produção de um relatório técnico para a Secretaria Municipal de Saúde. Além de mapear o perfil da população idosa local, o projeto busca fortalecer estratégias de cuidado e aproximar ciência e gestão pública diante dos desafios do envelhecimento.
Projeto aplica protocolo da OMS
O Projeto Seridó aplica o protocolo da Organização Mundial da Saúde (OMS) conhecido como Atenção Integrada para Pessoas — Integrated Care for Older People (Icope). Esse procedimento avalia a chamada capacidade intrínseca, ou seja, o conjunto de funções físicas e mentais essenciais para a autonomia e o bem-estar desse público. São observados aspectos como visão, audição, memória, saúde emocional, mobilidade e nutrição.
Além disso, a iniciativa reúne informações sociodemográficas (como idade, escolaridade e renda), histórico médico, presença de doenças crônicas, uso de medicamentos, quedas sofridas no último ano, medidas físicas como peso e altura e a própria percepção da pessoa idosa sobre sua saúde.
O protocolo também permite identificar síndromes geriátricas, como a sarcopenia — perda de força e massa muscular — e a fragilidade física, que aumenta o risco de quedas, dependência e morte.
Ação em campo fortaleze relatório
O Projeto Seridó começou a ser estruturado em agosto de 2024, com capacitações voltadas à aplicação do protocolo Icope, reunindo um grupo diverso de participantes. A iniciativa envolveu 50 alunos de graduação das áreas da saúde da UFRN, incluindo graduandos em medicina da Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM), além de 20 mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Educação Física, Fisioterapia, Saúde Coletiva e Nutrição.
Também participaram cerca de 30 Agentes Comunitários de Saúde e profissionais da saúde locais, fortalecendo a integração entre formação acadêmica e práticas comunitárias, ampliando o impacto da iniciativa na promoção do envelhecimento saudável.
Entre os dias 27 e 31 de janeiro, o projeto realizou sua ação em campo, na qual foram avaliadas 254 pessoas acima de 80 anos, representando, aproximadamente, 60% da população nessa faixa etária, tanto em áreas urbanas quanto rurais. As visitas foram realizadas em duplas, com duração aproximada de uma hora e meia, sempre em colaboração com os agentes comunitários e servidores do SUS.
Cada pessoa idosa atendida recebeu um relatório individual com seus resultados e recomendações personalizadas, para serem incorporadas ao prontuário das Unidades Básicas de Saúde (UBS) locais. Ao fim da ação, será elaborado um relatório geral com os dados coletados para ser entregue à Secretaria Municipal de Saúde, com o objetivo de fomentar estratégias e políticas públicas voltadas à melhoria da qualidade de vida da população idosa do município.
O objetivo é permitir que a gestão municipal desenvolva estratégias baseadas nessas informações, contando com o suporte do projeto quando necessário. "Foi uma semente plantada para compreender aspectos relevantes do processo de envelhecimento nesta região. É também uma oportunidade de aprendermos com essa população e identificarmos fatores possivelmente associados à sua longevidade, considerando suas condições cotidianas", afirmou o coordenador do projeto, Eduardo Caldas.
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