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Postado às 09h32 | 17 Jan 2017 | Cesar Santos Penitenciária de Alcaçuz está sob o comando de facções criminosas há quase dois anos

Reportagem de O GLOBO afirma que chacina na Alcaçuz tornou-se sí­mbolo da crise no sistema prisional

Crédito da foto:

Blog do César Santos

Reportagem especial do jornal O GLOBO sobre a chacina na maior penitenciária do Rio Grande do Norte, revela para o País o que todos os potiguares já sabiam: a Alcaçuz, em Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal, está sob o comando dos presos há dois anos.

A edição desta terça-feira (17) escreve que o episódio sangrento do final de semana tornou-se um símbolo do descontrole do sistema penitenciário brasileiro, palco de 142 mortes somente neste mês de janeiro.

"O motim revelou que a unidade prisional, a maior do Rio Grande do Norte, está sob comando dos presos há quase dois anos, quando as portas das celas foram quebradas e os detentos passaram a circular livremente dentro dos pavilhões."

E foi preciso: "Isso impediu, nesta segunda-feira, que a Polícia Militar, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e agentes penitenciários do Grupo de Operações Especiais (GOE) retomassem o controle da unidade após 48 horas de rebelião. As forças de segurança foram barradas ao tentar entrar no presídio, mesmo com relatos de mais mortes a possibilidade de novos confrontos entre presos."

Detentos ocupam telhado da Penitenciária Estadual de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal (foto: ANDRESSA ANHOLETE / AFP)

A reportagem de O GLOBO segue:

Agentes penitenciários que estiveram em Alcaçuz relataram que a tensão entre os presos deixou o clima na unidade em estágio “crítico”. Segundo a presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Rio Grande do Norte, Vilma Batista, que trabalha na penitenciária, a prisão está dividida entre as duas facções criminosas. Apenas seis agentes tentam fazer a segurança entre os pavilhões.

Vilma Batista: "A cadeia está nas mãos dos presos" (foto: arquivo/defato.com)

— A cadeia está na mão dos presos. Está claro e evidente que mesmo que o governo diga o que tem o controle, isso não é o que está acontecendo — afirmou Vilma.

Embora o governo estadual tenha anunciado a retomada do presídio no domingo, os presos voltaram a ocupar os telhados da penitenciária durante a manhã de ontem.

Do pavilhão 5, detentos ligados à facção Primeiro Comando da Capital (PCC) exigiram a permanência dos seis presos que teriam sido identificados como mandantes da chacina. Integrantes do Sindicato do RN, considerados rivais do PCC, também subiram ao teto do pavilhão 1.

Munidos de paus e bandeiras, os detentos relataram, aos gritos, a existência de outras vítimas do massacre e fizeram juras de novas mortes. Segundo policiais e parentes de presos, detentos do pavilhão 3, até então considerado neutro, aderiram ao PCC após receberem ameaças."

A matéria especial do jornal faz uma viagem no tempo recente, para contar como a crise no sistema prisional potiguar tornou-se ainda mais grave:

Ônibus incendiado nos ataques patrocinados pelo PCC em 2015 (foto: Tribuna do Norte)

"A perda do controle do governo do Rio Grande do Norte nas penitenciárias teve início em março de 2015, quando foi presos de 16 unidades, além de um centro de recuperação de crianças e adolescentes em situação de risco, orquestraram uma quebradeira das carceragens. Nas ruas, ônibus foram queimados e bases policiais foram atacadas. Os detentos mostraram que, de dentro das prisões, impunham medo. Na ocasião, foi decretado estado de emergência no sistema prisional.

Desde então, as unidades prisionais permanecem destruídas e nenhuma vaga para presos no estado foi aberta. Obras de reparos foram realizadas depois que o governo recebeu R$ 7,3 milhões da União.

Porém, uma nova rebelião, em outubro, tornou a destruir o interior da penitenciária de Alcaçuz, que hoje abriga cerca de 1.140 presos, o dobro de sua capacidade. Desde então, a unidade está sem celas. Os presos circulam livremente pelas galerias. Somente sete agentes atuam em esquema de plantão.

O governo estadual planejava reformar Alcaçuz. Antes, porém, pretendia transferir parte dos detentos para a Cadeia Pública de Ceará-Mirim, que terá capacidade para 600 presos quando for concluída. A obra, no entanto, está atrasada e prometida para novembro."

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