Quinta-Feira, 18 de abril de 2024

Postado às 10h42 | 08 Dez 2016 | Edinaldo Moreno Três em cada dez jovens brasileiros não fazem controle financeiro, mostram SPC Brasil e CNDL

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Os jovens são uma parte importante da população. Disseminam tendências e influenciam novos comportamentos e padrões de consumo, fazendo a economia rodar e colocar em prática transformações que podem ajudar a melhorar o país. Porém, é preciso entender como esses consumidores cuidam do próprio orçamento e a relação desses brasileiros com a gestão das finanças pessoais. Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que três em cada dez jovens (32,2%) não fazem controle sistemático financeiro.

Entre esses jovens, 76,4% garantem fazer o controle de cabeça, percentual que aumenta para 83,2% entre os homens e 79,8% na faixa etária de 18 a 24 anos. De acordo com especialistas, esse controle não deve ser tratado como um meio eficiente de manter a organização das contas por estar sujeito a esquecimentos e erros de cálculo.

Entre os que não fazem um controle efetivo das finanças, as justificativas mais mencionadas são a falta de hábito e disciplina (22,1%) e o fato de não ter um rendimento fixo por mês ou não saber exatamente quanto ganha por mês (17,4%). Segundo o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, conhecer a real situação das próprias contas, despesas e rendimentos é fundamental para que uma pessoa tenha condições de manter o equilíbrio financeiro. “Este é um comportamento que precisa ser cultivado desde cedo, para que possa prosseguir na vida adulta e, assim, gerar impactos verdadeiramente positivos, duradouros e de longo prazo”.

A maioria dos entrevistados, porém, garante fazer um controle financeiro adequado (67,8%), sendo o principal método utilizar um caderno de anotações (32,9%), uma planilha no computador (24,3%) e aplicativos para smartphone (10,6%).A maioria também declara possuir bastante conhecimento em relação ao seu orçamento pessoal, o que inclui tanto a renda quanto as despesas mensais a pagar: 91,4% garantem saber o valor de suas contas básicas, 85,9% sabem o valor das prestações e financiamentos a pagar nos próximos meses e 76,7% sabem qual será a renda total, considerando o salário, recebimento de aluguéis, entre outros.

A pesquisa também buscou saber quais são os compromissos financeiros dos jovens e também qual sua situação frente ao endividamento, à inadimplência e seus investimentos.

 

Valor médio das dívidas atrasadas é de R$ 464

O levantamento mapeou ainda os principais gastos e despesas mensais assumidos pelos jovens. São eles: gastos com alimentação (65,2), TV a cabo e/ou Internet (50,0%), contas de serviços básicos, como água e luz (39,0%) e gastos com telefonia, fixa ou móvel (37,4%).

A respeito das contas, as mais mencionadas são de internet (80,1%), água e luz (75,1%), telefone fixo e/ou móvel (68,9%) e as parcelas a pagar no cartão de crédito (63,1%). “Em todos esses casos, constatam-se percentuais mais expressivos na faixa etária de 25 a 30 anos, o que é natural considerando que nesta faixa, muitos já possuem uma renda maior, sendo mais participativos no orçamento da casa ou iniciam uma vida familiar independente”, analisa a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Com relação ao pagamento dos compromissos financeiros mensais, grande parte dos jovens ouvidos consegue mantê-los em dia: 84,2% conseguem pagar as contas na maioria das vezes, sendo que 54,8% garantem ainda haver sobra de dinheiro. Para outros 29,4%, as contas são pagas, mas não sobra nenhum valor na maioria das vezes. Em contrapartida, 10,0% afirmam que nem sempre conseguem pagar as contas e algumas vezes precisam fazer muito esforço para administrar o dinheiro e 5,8% admitem não conseguir pagar as contas.

Dentre os compromissos que estão em atraso, mas não geraram inclusão do nome em instituições de proteção ao crédito, o principal é o empréstimo com familiares ou amigos (21,1%), seguido pelo empréstimo em banco ou financeira (14,0%) e parcelas a pagar no cartão de loja (9,9%). Porém, em alguns casos a negativação em relação a certos compromissos financeiros acabou levando parte dos jovens a ficar com o nome sujo: 25,4% dos que tomaram empréstimo em banco ou financeira ficaram inadimplentes, assim como 23,0% dos que usaram o crediário ou carnê e 22,4% o cheque especial (22,4%).

A pesquisa mostra que o valor médio total das dívidas atrasadas é de R$ 464,20. Porém, as dívidas apresentam valores bastante variados e diretamente relacionados ao bem ou serviço adquirido: as contas de telefone fixo ou celular, por exemplo, possuem valores que correspondem a menos de R$ 100,00; já o financiamento da casa própria ultrapassa R$ 2.900,00.

Para os jovens que possuem contas em atraso, a principal razão apontada para a falta de pagamento é a diminuição da renda (26,1%) seguida pela perda do emprego (26,0%) e problemas de saúde (8,1%). Segundo Vignoli, a justificativa dada para deixar de honrar compromissos sugere que muitos jovens podem estar vivendo fora do padrão mais adequado à sua realidade financeira.“

Provavelmente não estão administrando suas finanças da melhor forma possível. Uma boa organização financeira leva em conta também a realização de uma reserva para emergências, o que em uma situação temporária de diminuição da renda ou perda do emprego, impediria que o consumidor acabasse ficando inadimplente. Portanto, é aconselhável rever os hábitos de consumo e readequar seus gastos”, aconselha o educador financeiro, José Vignoli.

Ainda assim, apesar dos atrasos nas contas, praticamente nove em cada dez jovens ouvidos na pesquisa demonstram uma visão positiva sobre a importância de honrar os compromissos assumidos: 89,1% concordam que ter o nome limpo é um dos bens mais preciosos que uma pessoa pode ter.

 

74% escolhem a poupança como investimento

Imprevisto é a principal motivação

A pesquisa mostra que os jovens talvez tenham sido influenciados por gerações mais conservadoras no que se refere aos hábitos de investir. Embora atualmente seja um dos investimentos menos rentáveis, a poupança ainda é o mais comum entre as os entrevistados (74,1%), com larga vantagem sobre as outras modalidades: dólar (14,6%), fundos de renda fixa e fundo de ações (14,4%) e previdência privada (13,8%). Por outro lado, 22,8% dos jovens ouvidos garantem não possuir nenhum dos investimentos investigados.

A poupança também foi identificada como o primeiro recurso a ser utilizado por 38,5% dos jovens caso passem por dificuldades financeiras. Outros 20,2% mencionam empréstimos com familiares, amigos ou conhecidos, e 12,9% fariam empréstimos bancários, de financeiras ou consignado.

Em média, os entrevistados que são investidores têm a prática de poupar há mais de dois anos e o valor total médio em investimentos é de R$ 5.513,00, com valores maiores entre os homens (R$ 6.751,00), quem está na faixa etária de 25 a 30 anos (R$ 7.650,00) e pertencentes das classes A/B (R$ 7.986,00). Mais da metade dos que possuem investimentos (51,4%) não souberam informar o valor.

O levantamento mostra que as motivações para investir estão relacionadas, principalmente, aos imprevistos (29,5%), ao desejo de garantir um futuro melhor para a família (25,7%), à compra da casa (24,4%) e à vontade de viajar (22,8%). Já quem não possui investimentos argumenta que nunca sobra dinheiro (50,6%). Outros justificam dizendo que como sobra pouco dinheiro, não têm esperança de que conseguirão juntar um bom valor no longo prazo (30,5%) e 21,0% não sabem como fazer.

Segundo Kawauti, é importante entender que vale a pena economizar, mesmo que seja em pequenas quantias. “Conseguir poupar pequenos valores já é melhor do que nada. Quanto antes os jovens começarem, mais cedo poderão ver resultados. Para isso, é preciso resistir ao consumo impulsivo e estar ciente que os efeitos positivos virão no longo prazo”, explica a economista-chefe. “Na internet os jovens podem ter acesso a informação dos mais diferentes tipos de investimentos, como o tesouro direto, mercado de ações, títulos imobiliários, CDI, entre outros”.

 

Metodologia

Foram entrevistados 601 consumidores com idade entre 18 e 30 anos, de ambos os gêneros e de todas as classes sociais nas 27 capitais brasileiras. A margem de erro no geral é de 4,0 pontos percentuais para um intervalo de confiança a 95%.

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