Vereadora eleita fala como pretende exercer o mandato
Em entrevista ao JORNAL DE FATO, a vereadora eleita Isolda Dantas (PT) destaca que o crescimento da bancada feminina na Câmara de Mossoró é importante, mas “precisa se traduzir em ação concreta no cotidiano da Casa e se reverter em mudança na vida das mulheres da cidade e do campo”.
Isolda adianta que vai ter posicionamento independente no legislativo, sem ser oposição ou situação ao futuro governo da prefeita eleita Rosalba Ciarlini (PP).
“O que for bom para Mossoró, estaremos construindo e debatendo”, destaca.
Ex-secretária municipal de Cultura, a vereadora eleita promete lutar pela recriação da pasta, extinta pelo prefeito Silveira Júnior (PSD). Ela acrescenta também que vai lutar por um legislativo autônomo, “capaz de dizer a respostas necessárias ao Palácio, e não o que o Poder Executivo quer ouvir”.
Confira na entrevista.
DE FATO – A resposta nas urnas, com o eleitor derrotando a maioria dos atuais vereadores, exige mudança de postura dos políticos com mandato?
Isolda Dantas – O eleitorado mossoroense optou por mudanças no que se refere ao legislativo. Isso é importante para provocar uma reflexão para quem não conseguiu se reeleger, como também para os e as estreantes no parlamento. Uma nova política se faz necessária, a conjuntura exige e a cidade merece.
O FATO de ter aumentado em mais de 100% a presença de mulheres pode-se afirmar que é um avanço da presença da mulher na política, ou Mossoró foi um caso isolado? Lembrando que o eleitor elegeu mais duas mulheres para prefeita e vice-prefeita em nossa cidade.
EM NÍVEL Nacional, segundo o TSE, nas eleições municipais de 2016, dos candidatos a vereadores e vereadoras aptos 68,71% eram homens e 31,29% eram mulheres. Após eleições, o resultado é bastante diferente e assustador. Apenas 13% de mulheres foram eleitas vereadoras no Brasil. Em Mossoró teve 375 candidatos e candidatas aptos a serem votadas. Desses 68% do sexo masculino e 32% do sexo feminino. Após resultado, Mossoró supera significativamente o cenário nacional, com 24% de mulheres ocupando o parlamento municipal. Sem dúvida esse percentual é um avanço para nossa cidade. Porém, o mesmo precisa se traduzir em ação concreta no cotidiano da câmara e se reverter em mudança na vida das mulheres da cidade e do campo. Não basta ser mulher, necessita ter uma olhar de perceber na sociedade as desigualdades entre homens e mulheres que a alicerça. Agradeço muito a Mossoró por me permitir ser vereadora em uma legislatura em que a Câmara inaugura sua maior bancada feminina.
O PT ocupou posição importante nas eleições suplementares de 2014, elegendo o vice-prefeito Luiz Carlos Martins. Fez parte do governo Silveira, inclusive, com a senhora no comando da Cultura. Agora, dois anos depois, não teve condições sequer de disputar cabeça de chapa, embora tenha reconquistado uma cadeira na Câmara. O partido em Mossoró é vítima do quadro nacional, ou precisa ser reinventado por conta de suas próprias fragilidades?
IMPORTANTE registrar que foi opção do PT construir junto com o PC do B a Frente Mossoró Tem Jeito.A Frente saiu muito fortalecida ao final do pleito. O PT pode ter cometidos erros, mas realizou muito mais acertos, com transformações reais na vida das pessoas. A maior delas foi acabar com a fome no Brasil. Poderia citar inúmeras ações na educação, no campo e cidade, mas os números estão disponíveis, são fatos concretos. Em diversas atividades da campanha, ouvíamos a frase “Com Lula o pobre teve vez”. Isso tem um significado enorme na política. Fizemos uma campanha afirmando com orgulho ser do Partido dos Trabalhadores e fomos vitoriosas. Mesmo assim, temos consciência que necessitamos seguir nos reinventando como partido de massa e da classe trabalhadora, retornar as bases e consolidar uma nova política.
VEREADORES que se anteciparam como oposição ao futuro governo anunciaram o 'grupo dos 13', inclusive, com propósito de disputar a presidência da Câmara. A senhora vai se engajar ao grupo ou terá uma linha de atuação própria?
FAREMOS um mandato baseado na qualidade, no diálogo e em parcerias com os movimentos sociais. O que for bom para Mossoró estaremos construindo e debatendo.
O FATO desse grupo “de oposição” ter representantes de partidos que são adversários históricos, e até radicais, do PT, como é o caso do DEM, prejudica o relacionamento com o seu mandato?
MUITAS alterações ocorrerão nesse cenário. Temos firmezas das nossas convicções, isso nos permitirá transitar na Câmara, dialogando e buscando os melhores rumos pra nossa cidade.
NOS dois blocos de vereadores que estão se desenhando, independente de ser oposição ou situação no futuro governo Rosalba, existem partidos que fizeram parte do “golpe” que tirou Dilma da presidência, a senhora se sente “perdida” nesse meio?
NA POLÍTICA não há “perdidos/as”. Quem alcançou êxito nessas eleições, considerada uma das mais difíceis dos últimos tempos, terá totais condições de construir e trilhar caminhos sábios.
A SENHORA historicamente tem participação direta nos movimentos sociais, com destaque para a luta das minorias, e também tem atuação na cultura. Esse será o perfil de sua atuação na Câmara Municipal?
FAREMOS um mandato baseado na qualidade, no diálogo e em parcerias com os movimentos sociais. Durante o processo de campanha dialogamos com vários setores que ajudaram inclusive a pensar futuros projetos e ações que o mandato pode apoiar, o segmento cultural foi um desses setores e certamente manteremos nosso diálogo.
A SEMANA foi marcada pela polêmica de um estudante proibido de assistir aula porque estava vestido com roupa “de mulher”. Houve grande repercussão, com opiniões diversas e conflitantes. Como a senhora se posiciona diante do caso?
O QUE causou polêmica não foi o estudante está usando um vestido, a polêmica foi se ele sofreu preconceito ou não e que se tratava de um caso de lgbtfobia. Na minha opinião, inclusive baseada no Estatuto da Criança e do Adolescente, nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, exploração, discriminação, violência, crueldade e opressão, sendo punido pela lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais previstos no artigo o 5º do Estatuto. O Estatuto da criança e do adolescente descreve como direitos fundamentais à Liberdade, o Respeito e à Dignidade. Artigo 17: O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Artigo 18: É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. A escola deveria ter tratado o caso de outra forma e ter protegido esse aluno, não permitindo que o mesmo sofresse qualquer tipo de preconceito ou constrangimento. Desejo que esse caso sirva de forma positiva para elevar o debate no interior da escola, e que contribua para rompermos com o preconceito e avancemos rumo a uma sociedade igual, que respeito os individuais e suas escolhas.
A EXTINÇÃO da Secretaria de Cultura pelo prefeito Silveira Júnior foi um atraso para o movimento cultural de Mossoró?
SEM dúvida alguma. Lutaremos para o retorno da mesma.
O PT rompeu com o PSD, mas ainda tem representante no governo do prefeito Silveira Júnior, não existe coesão para respeitar as decisões internas?
A DECISÃO do PT Municipal foi clara e taxativa, romper com o governo municipal. Se existe, está por iniciativa individual, não partidária.
A ATUAL legislatura é considerada uma das piores, ou a pior da história, como a senhora pretende contribuir para melhorar a avaliação popular da Câmara?
LUTAR por um legislativo autônomo, capaz de dizer a respostas necessárias ao Palácio, e não o que o poder executivo quer ouvir. Assim, ganhará a Câmara, pois resgatará sua imagem diante da sociedade, ganhará o Executivo, que terá uma Câmara com a capacidade de construir com a gestão municipal.
E COMO a senhora pretende contribuir com Mossoró exercendo o seu cargo de vereadora?
OFERECER para Mossoró um mandato de qualidade, dialogando com a sociedade e baseado nas lutas sociais. E acima de tudo exercendo a verdadeira função que cabe a uma vereadora, na qual está previsto em lei.
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