Terça-Feira, 23 de abril de 2024

Postado às 10h57 | 14 Ago 2016 | Cesar Santos í‰ preciso compreender as questões sociais e culturais, senhor ministro

Comentário machista do titular da Saúde fere a realidade

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Por Brena Santos

Depois do pronunciamento desastroso do ministro das Relações Exteriores, José Serra, em evento diplomático, ironizando a presença expressiva de mulheres mexicanas na política, agora foi a vez de mais um escolhido do interino Temer. O ministro da Saúde, Ricardo Barros, falou da criação de um projeto que tem como objetivo aumentar o número de atendimentos médicos aos homens na rede pública de saúde.

Baseado em dados estatísticos que mostram que as mulheres procuram mais cuidar da saúde do que os homens e na tentativa de justificar o desinteresse masculino em procurar cuidados médicos, ele disse:

“Eu acredito que é uma questão de hábito. Os homens trabalham mais, são os provedores da maioria das famílias e não acham tempo para a saúde preventiva.”

Acontece que, além de ofensivo, machista e neandertal, o ministro demonstrou desconhecer elementos básicos da sociedade brasileira que são imprescindíveis à sua capacidade de estar em um cargo de tamanha complexidade e importância.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra Domicílio (PNAD) de 2014, as mulheres brasileiras têm uma jornada de trabalho de quase cinco horas a mais que os homens, apesar de ganharem menos, sem esquecer a jornada de trabalho doméstica, consagrada como obrigação feminina culturalmente.

O que se afasta disso é exceção.

Em análise, observa uma jornada total exercida pelas mulheres de 20,6 horas/dia, enquanto os homens não exercem nem metade disso, configurando um total de 9,8 horas/dia. Logo, o fato de 31% dos homens não procurar atendimento em postos de saúde não tem qualquer relação com trabalhar mais ou menos que as mulheres, mas sim condições adversas que precisam ser estudadas para que projetos eficazes possam ser elaborados.

Compreende isso, inclusive, a filha do ministro da Saúde, a deputada estadual Maria Victoria Borguetti Barros (PP-RR), que criticou a afirmação do pai em rede social: “Trabalhamos 5 horas a mais na semana que os homens”, e acrescentou ainda que as mulheres fazem “jornada dupla de trabalho, quando voltam para casa”.

Pois bem.

Seja qual for o ministério – Relações Exteriores, Saúde, Educação etc. –, o seu ocupante, para ser um bom gestor, não deve se restringir às questões pragmáticas. Pelo contrário. Muito mais importante é compreender as questões sociais e culturais.

E, desde a impulsão proporcionada pelo movimento feminista no século passado que não se pode falar em mulheres enclausuradas em casas.

Elas estão trabalhando, e trabalhando mais que os homens; a PNAD assegura.

De resto, apenas lamentar que um ministro da República se posicione de tal forma.

* Brena Santos – Advogada

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